A palavra vocação vem do verbo latino ‘vocare’, chamar. Como cristãos, e segundo os relatos dos Evangelhos, o essencial da vocação é o encontro com Jesus que nos transforma a vida para sempre. É, por isso, uma questão de relação: quem chama é Deus e perante este convite de Deus, eu sou chamado/a a dar-Lhe uma resposta.
A vontade de Deus não é a descoberta de algo pré-determinado, mas é o fruto de uma história de amizade que se vai construindo entre mim e Deus e através da qual eu vou descobrindo, cada vez com mais clareza, o que eu realmente desejo. É assim que eu encontro a vontade de Deus para mim.
Mas o caminho de aprender a sentir e a ler o que sentimos não é claro nem imediato. É preciso procurar “aquilo que eu no fundo quero, à luz do Espírito Santo, depois de tirar os obstáculos” (P. Vasco Pinto Magalhães, sj). Passa por aprender a distinguir o que quero do que me apetece, ou seja, do que me identifica mais com Jesus, e de tirar obstáculos que me condicionam a tomar uma decisão livre. É por isso um caminho de liberdade, para descobrir o que realmente estou chamado/a a ser. E aquilo que eu sou verdadeiramente é expressão da vontade de Deus em mim.
Descobrir a vontade de Deus é o resultado de uma história de amizade com Deus, um processo de maturação pelo qual vou conhecendo melhor Jesus. Para se descobrir e perceber a relação com Deus é indispensável a oração. Através dela, vou percebendo os “toques” e sinais de Deus: o que me faz mais feliz, onde me sinto mais livre, o que me atrai/repugna…. Aprendo a ler estes sinais pelo discernimento que é uma arte que faz parte da Tradição da Igreja. Para aprender a ler estes sinais e a fazer caminho, é imprescindível falar com uma pessoa mais experiente, com formação em discernimento e que pode ajudar neste processo. É o acompanhamento espiritual.
Cada pessoa está chamada a percorrer um caminho de verdade e de liberdade até chegar a sentir-se profundamente realizada na sua humanidade. Antes de mais, somos chamados à vida humana e digna. Como cristãos, somos chamados a viver como Cristo: com o centro na nossa vocação batismal, sendo sacerdotes, profetas e reis.
Existem tantas vocações quantas as pessoas, mas podem ser “arrumadas” em diversos tipos de vocação dentro da Igreja: sacramento do matrimónio, vida laical, sacramento da ordem e vida consagrada. Algumas vocações entram em mais do que um destes tipos (um sacerdote religioso ou uma leiga consagrada). Nenhum tipo de vocação é melhor ou mais importante do que outro. Todas as vocações são boas e necessárias. O importante é que cada um descubra, com verdade, em que tipo de vocação pode seguir Jesus mais de perto e servir a Igreja.
Sim, todos temos vocação! Mas muitas vezes esta questão só nos inquieta quando sentimos ou pensamos que a nossa vocação pode ser ao sacerdócio ou à vida consagrada. Talvez isto aconteça porque há ainda a conceção de que estas são vocações “especiais” (menos frequentes) ou de “maior compromisso”…
Se sentes que o descobrir a tua vocação é algo que traz inquietude, curiosidade ou simplesmente tens vontade de descobrir a que é que Deus te chama, então leva a sério esta pergunta e descobre na tua relação com Deus o que és realmente e o que estás chamado/a a ser.
Queremos descobrir e aderir à vontade de Deus para nós e ajudar a que outros o façam também. Por isso, colocamo-nos à escuta do que Ele nos vai dizendo.
O acompanhamento espiritual oferece a possibilidade de, com alguém mais experiente nas “coisas de Deus”, ir discernindo os movimentos e inquietações interiores. Este caminho ajuda a pessoa a libertar-se de medos e preconceitos e a reconhecer a presença de Deus na sua própria vida.