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Santa Rafaela
Maria e Madre Pilar

"Santa Rafaela Maria tornou realidade as características que definem uma Escrava do Coração de Jesus. A sua vida é para nós um caminho seguro na procura da nossa identidade. Ela soube descobrir Deus em todas as coisas. Viveu profundamente o amor a Cristo na Eucaristia e o interesse do Seu coração pela salvação da Humanidade.

Esforçou-se por fazer do Instituto uma família unida, na qual “com um só coração e uma só alma”, vivêssemos a nossa missão reparadora. Com “amor humilde” ofereceu ao Senhor a Sua liberdade, todo o seu ser e o seu haver e partilhou com Ele uma vida verdadeiramente crucificada, na qual realizou a sua maior obra: entregar-se à vontade de Deus sem lhe pôr o mais pequeno obstáculo. (Constituições nº 15)

Santa Rafaela
Maria e Madre Pilar

Pedro Abad, a aldeia que as viu nascer...

Rafaela Maria (1850) e Dolores Porras y Ayllón (1846) nasceram numa família importante de Pedro Abad, na província de Córdoba, em Espanha.

A família foi a “terra “onde as duas irmãs aprenderam a bondade, a atenção aos outros, a solidariedade, o serviço e o amor a Jesus Cristo. Os seus pais tiveram 9 filhos. Dolores e Rafaela foram as mais novas de 7 irmãos rapazes.

O pai de Rafaela e Dolores era o presidente da Câmara de Pedro Abad e dono de muitas propriedades. Foi uma pessoa extremamente generosa durante toda a vida, preocupado com o bem-estar dos que trabalhavam para ele e com os problemas de todas as pessoas da terra. Morreu muito novo, quando Rafaela e Pilar tinham 4 e 8 anos de idade, contagiado pela epidemia de cólera, depois de se ter empenhado em ajudar todos os que pôde.

“A morte da minha mãe (…) abriu os olhos da minha alma”

A partir de então, a educação de Rafaela e Dolores ficou a cargo da mãe, que procurou cultivar nelas a generosidade e a atenção aos mais pobres, valores deixados como exemplo pelo pai.

Em Rafaela Maria, essa “semente” começou a despontar quando, aos 15 anos, fez o voto de castidade perpétua, prometendo entregar a Deus toda a sua vida.

A mãe morreu inesperadamente, quando ela tinha quase 19 anos, e este episódio marcou o início de uma nova etapa da sua vida: percebeu, na noite em que lhe fechou os olhos, que Deus estava ali muito presente e que, no meio do sofrimento, a consolava e lhe dava força. Diante da morte, compreendeu que o sentido da sua vida era entregá-la a Deus, para todos e para sempre.

Pedro Abad, a aldeia que as viu nascer...
“Durante muito tempo fomos servidas, agora devemos ser nós a servir a Deus e aos outros”

“Durante muito tempo fomos servidas, agora devemos ser nós a servir a Deus e aos outros”

A morte da mãe marcou também uma viragem na vida das duas irmãs. A partir desse momento, Rafaela e Dolores começaram a dedicar-se incansavelmente a ajudar as famílias mais pobres, levando-lhes comida, roupa e cuidando dos doentes. Na maioria das vezes, faziam-no às escondidas dos irmãos mais velhos, que não viam com bons olhos que duas donzelas se entregassem sozinhas a tais atividades. Com a cumplicidade de alguns criados, saíam pela porta traseira da casa para que eles não se apercebessem.

Estavam dispostas a tudo o que fosse vontade de Deus.

Estavam dispostas a tudo o que fosse vontade de Deus.

Tanto Rafaela como Dolores começaram a procurar na vida religiosa a sua resposta a tanto bem recebido de Deus.

Dois temperamentos diferentes, uma vocação comum...

Um sacerdote que chegou a Pedro Abad, e que se tornou diretor espiritual de Rafaela e de Dolores, fez-lhes uma proposta: abrir um colégio com a Sociedade de Maria Reparadora, uma congregação francesa, para colmatar a falta de escolas católicas em Espanha.

Elas aceitaram e um grupo de raparigas uniu-se a elas. Começaram a viver como noviças com as Reparadoras, na casa da família em Córdova. Aí descobriram dois tesouros que viriam a marcar profundamente a futura Congregação das Escravas: a Adoração do Santíssimo e a espiritualidade inaciana, fundada nas Regras de Santo Inácio.

Um ano depois, surgiram dificuldades e as Reparadoras abandonaram Córdova. Rafaela e Dolores, que nessa altura já usava o nome de Pilar, decidiram ficar e ficaram também com elas as 14 noviças que ali viviam.

O bispo nomeou Rafaela Maria superiora da comunidade. Ela queria ser a última, mas foi chamada a ser a primeira — e foi-o com cabeça e coração. Pilar assumiu a difícil tarefa de resolver os problemas económicos e as necessidades quotidianas.

“Queremos as regras de Santo Inácio!”

Tudo parecia correr bem e as noviças preparavam-se para fazer os votos e prometer obediência ao bispo. Mas, inesperadamente, o bispo alterou profundamente as regras de vida religiosa que tinham seguido até então, impondo as suas próprias. Elas não podiam aceitar. Para não desobedecer, tomaram a única decisão possível: mudar de diocese. Com o apoio do padre Ortiz, seguiram para Andújar, que pertencia a outra diocese.

“Eu não tenho pretensões de fundadora”

Por caminhos inesperados, as duas irmãs e o grupo de noviças acabaram por se estabelecer em Madrid, em 1877, retomando a vida religiosa como sentiam que Deus lhes pedia: seguindo as Regras de Santo Inácio, dedicando-se à educação de crianças pobres e à adoração do Santíssimo, com a Eucaristia como raiz do seu Instituto.

Foi aí que nasceu a primeira comunidade das Escravas do Sagrado Coração de Jesus. Aí Rafaela Maria e Pilar, com mais cinco noviças, fizeram os votos. O Instituto estava vivo.

A árvore começou a crescer e a dar fruto: surgiram novas fundações, escreveram-se as Constituições e, depois de aprovadas, foi eleito o primeiro Governo Geral, em 1886. Rafaela Maria foi escolhida por unanimidade como Superiora Geral, com a sua irmã Pilar como Assistente.

Estou disposta a dar a vida pela paz.
Estou disposta a dar a vida pela paz.
Até então, as duas irmãs fundadoras tinham vivido unidas, mas as dificuldades começaram a aparecer. Tinham temperamentos e visões diferentes sobre aspetos importantes do governo do Instituto.

Rafaela esteve no governo durante 16 anos. Preocupou-se sempre com o bem de cada Irmã, incentivando a coerência de vida, o crescimento interior de cada uma e a união da comunidade.

Quando os conflitos se agravaram - não só com Pilar, mas também com as outras Assistentes -, Rafaela, para preservar a unidade, decidiu ir para Roma e delegou o governo na irmã. Ficaria ali durante trinta e dois anos, entre 1892 e 1925, retirada e esquecida, tida por muitos como louca. Mas, mesmo no silêncio, manteve-se atenta ao mundo e à expansão do Instituto, rezando e ajudando como podia. Aquilo que poderia ser motivo de tristeza e de uma vida fracassada, tornou-se um caminho de fecundidade e santidade.

“Deus ama-nos como à menina dos seus olhos”

No cargo de Geral, foi substituída por Pilar, que rapidamente sentiu as mesmas dificuldades. A história repetia-se, unindo novamente as irmãs no sofrimento e na entrega. Rafaela acompanhou-a com conselhos e cartas até que, tal como ela, Pilar renunciou ao Governo do Instituto.

Entregues à oração e a tarefas domésticas simples, Rafaela Maria, em Roma, e Pilar, em Valladolid, assistiram, de longe, ao crescimento da obra que nasceu do seu amor e foi fecundada pela sua dor.

Entregues à oração e a tarefas domésticas simples, Rafaela Maria, em Roma, e Pilar, em Valladolid, assistiram, de longe, ao crescimento da obra que nasceu do seu amor e foi fecundada pela sua dor.

Serenas, confiaram sempre no Deus fiel, certas de que, pelos Seus caminhos, Ele guiaria o Instituto que, por meio delas, tinha começado. Pilar faleceu em 1916; Rafaela Maria, em 1925.

Rafaela Maria foi beatificada a 18 de maio de 1952 e canonizada a 23 de janeiro de 1977, reconhecendo-se uma vida partida e repartida, no silêncio e na simplicidade, para todos.