"Santa Rafaela Maria tornou realidade as características que definem uma Escrava do Coração de Jesus. A sua vida é para nós um caminho seguro na procura da nossa identidade. Ela soube descobrir Deus em todas as coisas. Viveu profundamente o amor a Cristo na Eucaristia e o interesse do Seu coração pela salvação da Humanidade.
Esforçou-se por fazer do Instituto uma família unida, na qual “com um só coração e uma só alma”, vivêssemos a nossa missão reparadora. Com “amor humilde” ofereceu ao Senhor a Sua liberdade, todo o seu ser e o seu haver e partilhou com Ele uma vida verdadeiramente crucificada, na qual realizou a sua maior obra: entregar-se à vontade de Deus sem lhe pôr o mais pequeno obstáculo. (Constituições nº 15)
A morte da mãe marcou também uma viragem na vida das duas irmãs. A partir desse momento, Rafaela e Dolores começaram a dedicar-se incansavelmente a ajudar as famílias mais pobres, levando-lhes comida, roupa e cuidando dos doentes. Na maioria das vezes, faziam-no às escondidas dos irmãos mais velhos, que não viam com bons olhos que duas donzelas se entregassem sozinhas a tais atividades. Com a cumplicidade de alguns criados, saíam pela porta traseira da casa para que eles não se apercebessem.
Um sacerdote que chegou a Pedro Abad, e que se tornou diretor espiritual de Rafaela e de Dolores, fez-lhes uma proposta: abrir um colégio com a Sociedade de Maria Reparadora, uma congregação francesa, para colmatar a falta de escolas católicas em Espanha.
Elas aceitaram e um grupo de raparigas uniu-se a elas. Começaram a viver como noviças com as Reparadoras, na casa da família em Córdova. Aí descobriram dois tesouros que viriam a marcar profundamente a futura Congregação das Escravas: a Adoração do Santíssimo e a espiritualidade inaciana, fundada nas Regras de Santo Inácio.
Um ano depois, surgiram dificuldades e as Reparadoras abandonaram Córdova. Rafaela e Dolores, que nessa altura já usava o nome de Pilar, decidiram ficar e ficaram também com elas as 14 noviças que ali viviam.
O bispo nomeou Rafaela Maria superiora da comunidade. Ela queria ser a última, mas foi chamada a ser a primeira — e foi-o com cabeça e coração. Pilar assumiu a difícil tarefa de resolver os problemas económicos e as necessidades quotidianas.
“Queremos as regras de Santo Inácio!”
Tudo parecia correr bem e as noviças preparavam-se para fazer os votos e prometer obediência ao bispo. Mas, inesperadamente, o bispo alterou profundamente as regras de vida religiosa que tinham seguido até então, impondo as suas próprias. Elas não podiam aceitar. Para não desobedecer, tomaram a única decisão possível: mudar de diocese. Com o apoio do padre Ortiz, seguiram para Andújar, que pertencia a outra diocese.
“Eu não tenho pretensões de fundadora”
Por caminhos inesperados, as duas irmãs e o grupo de noviças acabaram por se estabelecer em Madrid, em 1877, retomando a vida religiosa como sentiam que Deus lhes pedia: seguindo as Regras de Santo Inácio, dedicando-se à educação de crianças pobres e à adoração do Santíssimo, com a Eucaristia como raiz do seu Instituto.
Foi aí que nasceu a primeira comunidade das Escravas do Sagrado Coração de Jesus. Aí Rafaela Maria e Pilar, com mais cinco noviças, fizeram os votos. O Instituto estava vivo.
A árvore começou a crescer e a dar fruto: surgiram novas fundações, escreveram-se as Constituições e, depois de aprovadas, foi eleito o primeiro Governo Geral, em 1886. Rafaela Maria foi escolhida por unanimidade como Superiora Geral, com a sua irmã Pilar como Assistente.
Rafaela esteve no governo durante 16 anos. Preocupou-se sempre com o bem de cada Irmã, incentivando a coerência de vida, o crescimento interior de cada uma e a união da comunidade.
Quando os conflitos se agravaram - não só com Pilar, mas também com as outras Assistentes -, Rafaela, para preservar a unidade, decidiu ir para Roma e delegou o governo na irmã. Ficaria ali durante trinta e dois anos, entre 1892 e 1925, retirada e esquecida, tida por muitos como louca. Mas, mesmo no silêncio, manteve-se atenta ao mundo e à expansão do Instituto, rezando e ajudando como podia. Aquilo que poderia ser motivo de tristeza e de uma vida fracassada, tornou-se um caminho de fecundidade e santidade.
“Deus ama-nos como à menina dos seus olhos”
No cargo de Geral, foi substituída por Pilar, que rapidamente sentiu as mesmas dificuldades. A história repetia-se, unindo novamente as irmãs no sofrimento e na entrega. Rafaela acompanhou-a com conselhos e cartas até que, tal como ela, Pilar renunciou ao Governo do Instituto.
Serenas, confiaram sempre no Deus fiel, certas de que, pelos Seus caminhos, Ele guiaria o Instituto que, por meio delas, tinha começado. Pilar faleceu em 1916; Rafaela Maria, em 1925.
Rafaela Maria foi beatificada a 18 de maio de 1952 e canonizada a 23 de janeiro de 1977, reconhecendo-se uma vida partida e repartida, no silêncio e na simplicidade, para todos.